Se sabedes novas do meu amigo, Aquel que mentiu do que pôs comigo?
Ai, Deus, e u é?
CANTIGA DE MALDIZER
Conheceis uma donzela
Por quem trovei e a que um dia
Chamei dona Berinjela?
Nunca tamanha porfia
Vi nem mais disparatada.
Agora que está casada
Chamam-lhe Dona Maria.
Algo me traz enojado,
Assim o céu me defenda:
Um que está a bom recato
(negra morte o surpreenda
e o Demônio cedo o tome!)
quis chamá-la pelo nome
e chamou-lhe Dona Ousenda.
Pois que se tem por formosa
Quanto mais achar-se pode,
Pela Virgem gloriosa!
Um homem que cheira a bode
E cedo morra na forca
Quando lhe cerrava a boca
Chamou-lhe Dona Gondrode.
O amante posiciona-se inferiormente à mulher , divinizando-a , a ponto de se estabelecer uma relação de "senhor"para vassalo . Ela é o seu "senhor"( não existia a palavra "senhora") , dona do destino do apaixonado , o qual busca um a linguagem e atitudes cuidadosas para não ofendê-la , inclusive , omitindo , o nome da amada . Esse comportamento e essa relação caracterizam o amor cortês , em que a mulher é sempre vista como merecedora de todas as atenções , gentilezas e considerações da parte daquele que a deseja .
A posição de inferioridade , em que se coloca o apaixonado , torna quase sempre a sua cantiga um lamento , expressão do sofrimento amoroso . Esse sentimento era chamado de coitas . A insistência com que essa temática aparece nas Cantigas de Amor torna-as repetitivas . Apesar disso , a Cantiga de Amor , foi o tipo de produções mais importante dentre as cantigas . Em primeiro lugar por ter sido produzido por compositores ligados à nobreza , o que , quase sempre , garante maior riqueza vocabular e estruturação técnica de melhor qualidade . Em segundo lugar , por se dirigir a um público mais culto .
A figura de Deus domina toda a cultura da época, gerando uma visão de mundo baseada no teocentrismo, ou seja, Deus como o centro do Universo.
Assim, é natural que a visão de mundo da época fosse marcada pelo teocentrismo — escala de valores determinada a partir dos próprios valores impostos pela religiosidade. Por essa razão, o homem dessa fase medieval privilegiava os bens do espírito, da alma, da vida pós-morte, em detrimento do corpo e da vida carnal, terrena.
Nas artes, houve destaque para o desenvolvimento da música e arquitetura, pois elas serviam ao propósito religioso daquele tempo: a música religiosa podia criar uma atmosfera extraterrena, envolvendo o fiel, e a arquitetura era empregada na construção de catedrais.
Na literatura houve maior desenvolvimento da poesia do que da prosa, pois a poesia apoiava-se na música e isso facilitava sua transmissão oral.
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CANTIGA DE AMOR
No mundo non me sei parelha,
Mentre me for’como me vay
Ca já moiro por vos – e ay!
Mia senhor branca e vermelha,
Queredes que vos retraya
Quando vus eu vi em saya!
Mao dia me levantei,
Que vus enton non vi fea!
E, mia senhor, des aquel di’ ay!
Me foi a mi muyn mal,
E vos, filha de don Paay
Moniz, e bemvus semelha
D’aver eu por vos guarvaya
Pois eu, mia senhor d’alfaya
Nunca de vos ouve, nem ei
Valia d’ua correa.
CANTIGA DE AMIGO
- Ai flores, ai flores do verde pino,
Se sabedes novas do meu amigo?
Ai, Deus, e u é?
Ai flores, ai flores do verde ramo,
Se sabedes novas do meu amado?
Ai, Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amigo, Aquel que mentiu do que pôs comigo?
Ai, Deus, e u é?
CANTIGA DE MALDIZER
Conheceis uma donzela
Por quem trovei e a que um dia
Chamei dona Berinjela?
Nunca tamanha porfia
Vi nem mais disparatada.
Agora que está casada
Chamam-lhe Dona Maria.
Algo me traz enojado,
Assim o céu me defenda:
Um que está a bom recato
(negra morte o surpreenda
e o Demônio cedo o tome!)
quis chamá-la pelo nome
e chamou-lhe Dona Ousenda.
Pois que se tem por formosa
Quanto mais achar-se pode,
Pela Virgem gloriosa!
Um homem que cheira a bode
E cedo morra na forca
Quando lhe cerrava a boca
Chamou-lhe Dona Gondrode.
O amante posiciona-se inferiormente à mulher , divinizando-a , a ponto de se estabelecer uma relação de "senhor"para vassalo . Ela é o seu "senhor"( não existia a palavra "senhora") , dona do destino do apaixonado , o qual busca um a linguagem e atitudes cuidadosas para não ofendê-la , inclusive , omitindo , o nome da amada . Esse comportamento e essa relação caracterizam o amor cortês , em que a mulher é sempre vista como merecedora de todas as atenções , gentilezas e considerações da parte daquele que a deseja .
A posição de inferioridade , em que se coloca o apaixonado , torna quase sempre a sua cantiga um lamento , expressão do sofrimento amoroso . Esse sentimento era chamado de coitas . A insistência com que essa temática aparece nas Cantigas de Amor torna-as repetitivas . Apesar disso , a Cantiga de Amor , foi o tipo de produções mais importante dentre as cantigas . Em primeiro lugar por ter sido produzido por compositores ligados à nobreza , o que , quase sempre , garante maior riqueza vocabular e estruturação técnica de melhor qualidade . Em segundo lugar , por se dirigir a um público mais culto .
A figura de Deus domina toda a cultura da época, gerando uma visão de mundo baseada no teocentrismo, ou seja, Deus como o centro do Universo.
Assim, é natural que a visão de mundo da época fosse marcada pelo teocentrismo — escala de valores determinada a partir dos próprios valores impostos pela religiosidade. Por essa razão, o homem dessa fase medieval privilegiava os bens do espírito, da alma, da vida pós-morte, em detrimento do corpo e da vida carnal, terrena.
Nas artes, houve destaque para o desenvolvimento da música e arquitetura, pois elas serviam ao propósito religioso daquele tempo: a música religiosa podia criar uma atmosfera extraterrena, envolvendo o fiel, e a arquitetura era empregada na construção de catedrais.
Na literatura houve maior desenvolvimento da poesia do que da prosa, pois a poesia apoiava-se na música e isso facilitava sua transmissão oral.