May 2021 10 43 Report
Filosoficamente falando, em que tipo de leitor vc se enquadra?

O filósofo Michel Foucault, no auge de sua notoriedade, foi, certa vez, convidado pelo jornal francês "Le Monde" a conceder uma longa entrevista. Foucault aceitou, mas impôs e se colocou irredutível a uma condição: o anonimato. Ou seja, ele concordaria em dar a entrevista, mas o jornal não o identificaria e cuidar-se-ia de eliminar todo e qualquer indício que pudesse identificá-lo. Ciente de que o nome de Foucault atrairia muitos leitores, o jornal relutou contra a idéia espantosamente inusitada do anonimato, mas, diante da irredutibilidade do filósofo, acabou acedendo e a entrevista foi ao ar com o título "O Filósofo Mascarado".

Intrigado com tão inusitada situação, o repórter quis, saber, precipuamente, o porquê do anonimato, ao que, Foucault respondeu:

"Por que do anonimato? Por saudades do tempo em que eu era absolutamente desconhecido e, portanto, aquilo que eu dizia tinha alguma possibilidade de ser entendido. O contato imediato com o eventual leitor não sofria interferências. Os efeitos do livro refletiam-se em lugares imprevistos e desenhavam formas a que nunca havia pensado. O nome constitui uma facilitação. (,,,) Se escolhi o anonimato, não é porque quero criticar isso ou aquilo, o que nunca faço. É apenas um jeito que encontrei de dirigir-me mais diretamente ao eventual leitor, o único personagem que me interessa: 'já que não sabes quem sou, não sentirás a tentação de buscar os motivos pelos quais digo o que lês' ."

O Jornal 'Le Monde' cumpriu o acordo e o nome de Foucault só foi revelado depois de sua morte.

Inspirada por esta magnífica entrevista, perguntei a mim mesma, em que tipo de leitor eu me enquadro? Queria também saber, em que tipo de leitor os meus amigos se acham enquadrados? Melhor, qual seria o ideal de leitor para o grande Foucault?

-Vc consulta a lista de 'best-sellers' antes de comprar um livro?

-Vc se aventura em comprar um livro cujo autor lhe é desconhecido?

-Vc tem um prato literário predileto? Se sim, qual é este prato?

-Vc costuma diversificar suas leituras?

-Qual é a sua postura enquanto lê? Vc entra na história da leitura e se transforma num dos personagens? Vc critica? Vc se emociona?

-Vc é do tipo de leitor que está apenas buscando uma assinatura para o que vc pensa? Ou vc está tentando aprender algo de novo, ou conhecer uma nova idéia?

(Michel Foucault é um dos filósofos que mais admiro. Aliás, admirar é pouco diante do que ele representa para a minha carreira acadêmica. Suas obras "A História da Loucura", "Vigiar e Punir" e "Microfísica do Poder", para mim, tiveram a função de "limpeza ótica". Devo confessar que a minha visão da filosofia nietzscheana é imensamente tributária da ótica de Foucault).

Enfim, por favor, comentem.

MUITO OBRIGADA!

Update:

Oi, Harlequim! Acho que vc pressente que estamos todos na esteira do devir e que, portanto, nunca fomos, e nem nunca seremos seres concluídos. E, portanto, jamais poderemos dizer que nos conhecemos ou que conhecemos alguém, porque não se pode conhecer algo que não é concluído. Por isso vc escreveu o que escreveu em seu perfil. Assim é também o leitor Harlequim que sabe e enfrenta os diversos personagens que o habitam e a cada leitura, colocará para passear em seu enredo um personagem ou todos. Ora Harlequim, ora Pierrô, ora simplesmente Arlequim. E, por mais contraditório que isso possa parecer, essa é a nossa mais verdadeira nuança. Beijo na alma.

Update 3:

Pô, gente. Era prá responder sim, mas precisavam me sacanear tanto? E agora? Como é que eu vou escolher a MR com tantas melhores respostas deste jeito?

Update 5:

Oi, Amigos.

Em poucas perguntas eu fiquei tão feliz com as respostas que recebi, como a esta pergunta. Vcs estão todos de parabéns e eu lhes sou imensamente grata, do fundo do meu coração. Vcs me deixaram com muita vontade de estar jogando conversa fora com vcs na cozinha da minha casa, que é o cômodo mais gostoso de todas as casas (rsrsrs).

Acho que todos vcs (Heine, Lobinho e Klindo) que expressaram suas interpretações sobre a causa do anonimato em Foucault, estão certos. Suas interpretações se complementam e eu também concordo com o que vcs disseram. Gilles Deleuze, um conterrâneo de Foucault e que tb estudou e escreveu muito sobre Nietzsche, explica um pouco sobre essas nuanças que costumam invadir, sem que possamos impedir, as nossas interpretações.

Sobretudo, achei delicioso ler vcs, meus amigos. Um dos encontros mais felizes, é quando encontramos amigos que nos falam numa mesma linguagem. Heine, seu texto não ficou, de forma alguma, comprido, aliás, achei-o demasiado curto e la

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